quarta-feira, 8 de novembro de 2023

Tornei-me monge porque havia perdido o sentido de qualquer propósito em minha vida e estava à deriva espiritualmente. Desde então, 40 anos se passaram. A meu ver, hoje em dia a tristeza e a dor não desapareceram de forma alguma. Cada dia traz felicidade e dor; no entanto, elas não são problemas. Se você olhar a paisagem, não há qualquer problema; existem apenas árvores, grama, nuvens. No entanto, as pessoas criam problemas a partir disso, como o tempo nublado, ou as árvores estarem muito próximas, ou talvez até mesmo o fato de a grama ser muito verde! 

Numa carta que recebi recentemente, o remetente disse que não conseguia compreender como a natureza búdica pode ser inerente às árvores ou à relva. Por quê? Se as árvores e a grama, ou uma escrivaninha, são dotadas da natureza búdica, por que é que estas, ao contrário dos seres humanos, ao contrário do próprio remetente, não sentem angústia? 

Minha resposta para a pessoa que observa as árvores, a grama ou a mesa seria que, se ela realmente quiser transformar isso num problema, esta é a maneira de fazê-lo: não se perguntar por que as árvores etc. não sentem dor ou angústia, mas sim, perguntar por que é que eu, dotado da mesma natureza búdica que elas têm – por que eu sinto angústia? Por que não penso na minha própria situação ou no meu coração, em vez de pensar nas árvores, na grama ou na mesa? Por que ao invés de realmente tentar me compreender, tentar compreender o Zen Budismo ou a natureza búdica da mesa? Esse equívoco é o nosso koan hoje. 


Soko Morinaga 





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