sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Reconhecendo o vazio da mente





 

Como o samsara se manifesta? O que quer que percebamos ao nosso redor com nossos cinco sentidos, todos os tipos de sentimentos de relação e repulsão, se formam em nossa mente. Não são as percepções em si que nos mantém no ciclo de existências, mas sim o modo pelo qual reagimos a elas e o modo pelo qual as interpretamos.  
 

O ódio ou a raiva que possamos sentir por alguém não são inerentes àquela pessoa. Eles existem apenas em nossa mente. Assim que vemos o nosso inimigo, nossos pensamentos se fixam na memória do mal que ele fez para nós, em seus ataques presentes e naqueles que poderá fazer no futuro. Nos tornamos irritados a ponto de não sermos mais capazes de suportar o som de seu nome. Quanto mais liberdade nós damos a estes pensamentos, mais a raiva irá nos invadir e, com ela, a vontade irresistível de pegar uma pedra para lhe jogar, ou de um bastão para lhe bater. Deste modo, um simples instante de raiva nos conduz ao paradoxo do ódio. 
 

O ódio parece muito poderoso para vocês, mas de onde ele tira o poder de dominá-los a esse ponto? É uma força externa, com braços e pernas, armas e guerreiros? Ou é uma força interna, que está dentro de vocês? Se esse for o caso, vocês podem identificá-la em seu cérebro, em seu coração, ou em alguma parte de vocês? 
 

Apesar de ser impossível de localizá-lo, o ódio parece ter uma presença muito concreta que tende a amarrar a mente, a solidificá-la, e desse modo a desatrelar todo um processo de sofrimento para vocês e para os outros. Assim como as nuvens que, apesar de serem insubstanciais para suportar o menor peso, podem encobrir o céu e o sol, do mesmo modo os pensamentos podem obscurecer o brilho da consciência iluminada. Reconheçam o vazio da mente, sua transparência, e ela retornará por si mesma ao seu estado natural de liberdade. Reconheçam o vazio do ódio e ele perderá seu poder de fazer o mal. Ele se tornará a sabedoria que é como o espelho. 

 

Dilgo Khyentse Rinpoche

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