Muitas
pessoas confundem o budismo com uma doutrina que crê em reencarnação,
mas isso não é verdade, porque não existe reencarnação no budismo, não
da maneira como se entende reencarnação. Pois não existe nenhuma alma
para reencarnar, nenhum espírito, nenhum eu. Há continuidade, mas não de
um eu. Somente nosso karma ou nossos impulsos podem permanecer, como
movimento que são. E como são movimento, tentarão se manifestar
novamente e gerarão um novo ser muito semelhante a nós, com os mesmo
desejos e tudo mais, que também olhará para si mesmo e dirá “eu sou”.
Este ser até, na infância, pode ter recordações fugazes da existência
anterior, mas a perde rapidamente com a idade, chamamos isto, no
budismo, de renascimento, em tudo é semelhante ao conceito de
reencarnação exceto pelo fato de não haver um eu pessoal que subsiste.
(Para os que perguntam sobre a tradição dos tulkus no budismo
tibetano, o reconhecimento de renascimentos, ela não conflita com este
conceito desde que está claro que não se trata de continuidade de um eu,
mas sim de continuidade cármica, se houvesse sobrevivência de um eu não
se trataria de budismo, pois Buda negou esta possibilidade)
E porque continua esse ser iludido criando novas identidades vidas após
vidas, sem parar, esse ser não passa de um ser cíclico, repetindo
sempre os mesmo atos, as mesmas insatisfações, os mesmos desejos e as
mesmas tristezas. Como podemos escapar desse ciclo? Somente se mudarmos
nossos olhos, os olhos que vêem o mundo. Porque temos olhos de eu,
olhamos o mundo como um mundo que age e interage conosco, quando essa
interação também é ilusória. Todas as ações e reações das pessoas, todas
as coisas que nós temos, todas, são projeções do nosso eu. Nós
projetamos nosso eu sobre todas as coisas e as interpretamos de acordo
com nosso eu, e este eu é nosso engano.
Monge Genshô
(postado em seu excelente blog O Pico da Montanha é Onde Estão os Meus Pés)
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