segunda-feira, 28 de julho de 2025

Todo ser vivo possui o coração da iluminação.  As sementes da iluminação existem dentro de cada um. Os seres vivos não precisam buscar a iluminação fora de si mesmos, pois toda a sabedoria e poder do universo já está presente dentro deles. Essa foi a grande descoberta do Buda e morivo para todos se regojizarem.


Thich Nhat Hanh 

Onde você busca a espiritualidade? Ela está em cada coisa comum que você faz todos os dias. Varrer o chão, regar os vegetais e lavar a louça tornam-se espirituais e sagrados se a atenção plena estiver presente.


Thich Nhat Hanh 

Embora, ordinariamente,  pensemos que uma folha nasça na primavera, Gautama podia ver que ela já estava lá por um longo, longo tempo, na luz do sol,  nas nuvens,  na árvore e nela mesma. Vendo que a folha jamais havia nascido, pôde ver que ele próprio também jamais havia nascido. Ambos, a folha e ele mesmo, tinham apensa se manifestado - nuncam tinham nascido e, assim, eram incapazes de morrer. Ele pôde ver que a presença unica de qualquer fenômeno tornava possível a existência de todos os demais fenômenos. Um incluía todos e todos estavam contidos no um.


Thich Nhat Hanh 

Olhando profundamente para a folha, com clareza,  Sidarta viu a presença do sol e das estrelas - sem o sol, sem a luz e o calor, ela não existiria. Isso é assim porque aquilo é daquela maneira. Também viu na folha a presença das nuvens - sem nuvens não poderia haver chuva, e sem a chuva, a folha não poderia ser.  Ele viu a terra,  o tempo,  o espaço e a mente - todos estavam ali presentes. Realmente,  naquele exato momento,  o universo inteiro existia naquela folha.  A realidade da folha era um maravilhoso milagre. 


Thich Nhat Hanh 

sábado, 26 de julho de 2025

Se o seu despertar for perfeito, e tiver obtido a compreensão plena, não apenas as raras e maravilhosas frases dos budas e mestres serão reconhecidas como essência, mas tudo o mais que surgir  no mundo será essência. 


Bassui

sexta-feira, 25 de julho de 2025

A chuva parou, as nuvens se dissiparam e o tempo está limpo novamente.

Se o seu coração é puro, então todas as coisas no seu mundo são puras.

Abandone este mundo passageiro, abandone a si mesmo, 

então a lua e as flores o guiarão pelo Caminho.


Ryokan

Se alguém me pergunta sobre

minha morada,

eu respondo:

"A borda leste da

Via Láctea."


Como uma nuvem à deriva,

preso a nada:

eu simplesmente deixo ir,

entregando-me

ao capricho do vento.


Ryokan

A vida é como uma gota de orvalho,

vazia e passageira;

Meus anos se foram

e agora, trêmulo e frágil,

devo desaparecer.


Ryokan (1758 - 1831)

quinta-feira, 24 de julho de 2025

Também vem de Buda a doença que se manifesta. 

Junto minhas mãos e recebo esta benção com serenidade de espírito.


Shundo Aoyama Roshi

Qual é o caminho da pessoa que segue os ensinamentos de Buda? Apenas permitir que Buda cuide de todos os aspectos da sua vida.


Kodo Sawaki Roshi 

quarta-feira, 23 de julho de 2025

Com o zazen como nosso padrão, treinamos a nós mesmos na atitude adequada em relação à vida. Essa prática enriquecerá sua vida e lhe trará paz de espírito. De modo geral, a prática deve ser sua abordagem à vida".


Kodo Sawaki Roshi


No zen, a religião é a sua própria vida, sempre, em cada instante.

Fixar a atenção neste nomento, sem esperar nada dele, sem fazer depender nada dele, sem adicionar ou excluir nada. Simplemente aproveitar este momento.

A sua visão da vida deve ser tão clara que você poderia aproveitar inclusive se tivesse que morrer neste preciso instante.


Kodo Sawaki Roshi 

segunda-feira, 21 de julho de 2025

Dōgen não vê o universo como um “cenário” neutro no qual os seres vivem.

Ele afirma que o universo está praticando o Caminho agora mesmo — através de tudo: montanhas, rios, pessoas, tempo, silêncio.

As montanhas e rios da Terra inteira são o corpo e a mente do Buda.”

(Sansuikyō – Sutra das Montanhas e Rios).

Dōgen dissolve a dicotomia “eu vs. mundo”:

Quando o ego se desfaz, você não está no universo — você é o universo se expressando aqui e agora.

É uma visão não dual:

Você não está separado do cosmos;

Você é parte integrante da dança do Dharma — como o vento, a pedra, o silêncio, a estrela.


domingo, 20 de julho de 2025

A única maneira de ultrapassarmos a roda do samsara é transformar toda a nossa vida em uma prática do Dharma. Há muitas qualidades que precisamos no caminho, incluindo generosidade, paciência, bondade amorosa, compaixão e, especialmente, a capacidade de estar atento, de estar consciente, de estar presente. Toda a nossa vida deve se tornar a nossa prática. Todas as pessoas que encontramos são a nossa prática. Tudo nos ensina algo se estivermos abertos a aprender. Então, quando toda a nossa vida for a nossa prática, não poderemos dizer: "Não tenho tempo.


Jetsunma Tenzin Palmo

Quando algum problema físico ou mental acontece,  minha mente se torna amarga e sombria, ou busca alívio freneticamente.


Que importância tem isso? É a mente que é amarga e inquieta, não você. Veja, coisas de todos os tipos acontecem nesta sala. Sou em quem faço acontecer? Elas apenas acontecem. Com você é a mesma coisa - a trama do destino desenrola e atualiza o inevitável.  Você não pode mudar o curso dos acontecimentos,  mas você pode mudar sua atitude.

O mundo é a morada dos medos e dos desejos. Nele não se pode encontrar paz. Para ter paz, você tem que ir além do mundo. 

O tempo acerta todas as contas. A lei do equilíbrio reuna suspensa.


Sri Nisargadatta Maharaj 


Ao ler o Shōbōgenzō, ficou claro para mim a visão sobre o ser humano, quando consciente e desperto:

- Somos um espelho do universo, capaz de perceber sua inseparabilidade de tudo;

- Somos ponto de manifestação: quando sentamos em zazen, o universo inteiro senta conosco.

Sentar-se em zazen é fazer girar a roda do Dharma. Mesmo que o corpo pareça imóvel, as dez direções estão se movendo contigo.”

Isso significa que, quando nos aquietamos verdadeiramente, participamos da respiração cósmica.

sábado, 19 de julho de 2025

A prática zen é como se render à correnteza de um rio que leva à quietude do oceano.


Doka Sensei

terça-feira, 15 de julho de 2025

Ao preparar a comida, nunca considere os ingredientes de uma perspectiva comum, nem pense neles apenas com suas emoções. Mantenha uma atitude que busca construir grandes templos com vegetais comuns, que expõe o Dharma de Buda mesmo na mais insignificante atividade.


Dogen Zenji

segunda-feira, 14 de julho de 2025

Dōgen rejeitou a visão linear de que primeiro se pratica e depois se alcança a iluminação. Em vez disso, ele afirma que praticar já é expressar a iluminação, e iluminar-se é praticar. Não existe um caminho no qual a prática seja apenas um meio para um fim (iluminação); ambos são simultâneos.

“Sentar-se em zazen é já estar iluminado como Buda.”

Essa ideia é radical: elimina o objetivo como meta futura e foca no aqui e agora.

Este é um dos textos mais influentes de Dōgen. Em Genjōkōan, ele diz que todas as coisas estão em constante expressão da realidade tal como ela é. Não há separação entre fenômeno e verdade última.

O termo “genjō” (現成) significa "manifestação/atualização", e "kōan" (公案) remete a um “caso público” – um paradoxo Zen que aponta para a verdade além da lógica.

Dōgen não vê kōan como enigmas intelectuais, mas como expressões vivas da realidade. A própria vida cotidiana é o kōan.

Dōgen desenvolve uma concepção revolucionária do tempo como inseparável do ser. Em seu fascículo Uji, ele declara:

Ser é tempo. Tempo é ser. O tempo não passa por nós, nós somos o tempo.”

O tempo não é linear ou exterior aos seres — todo ser é uma expressão temporal. Cada momento contém a eternidade, e cada ato cotidiano é a totalidade do ser-tempo.

Não se trata de "passar o tempo", mas de "ser tempo".

Dōgen usa o termo 無所得 (mushotoku) — “sem desejo de ganho”. Esse é um termo chave para o Zen:

Sentar-se sem buscar nada, sem esperar nada, sem tentar se tornar alguém — esse é o verdadeiro zazen.”

O zazen não serve para “melhorar” sua mente, a sua personalidade ou "melhorar" o que quer que seja.

O zazen é a expressão da mente já desperta, mesmo que você não perceba.

 Dōgen nos lembra:

“A flor se abre porque ela já é a abertura.”

Praticar não é uma escada. É uma floração constante do instante. Não se caminha para a iluminação — caminha-se como a iluminação.

Dogen rejeita a ideia tradicional de que se pratica a fim de alcançar a iluminação.

Para Dōgen, esse pensamento dualista é uma ilusão:

"Praticar o caminho é já ser o caminho. Iluminar-se não é resultado da prática — é sua expressão."

Para Dōgen, a impermanência não é uma negação da realidade, mas exatamente o que torna as coisas reais, preciosas e significativas.

“As flores caem mesmo que as amemos; as ervas crescem mesmo que não as desejemos.” (Genjōkōan)

Aqui, ele mostra que o apego e a aversão não mudam a realidade do fluxo. Mas é justamente esse fluxo que dá valor ao momento presente.

Diferente de escolas budistas que veem a impermanência como algo a ser “superado” ou “transcendido”, Dōgen afirma:

- Impermanência é a própria iluminação.

Não há um eu fixo, uma mente estática, um tempo congelado.

Para Dogen, não há "um eu vendo as coisas mudarem". A mudança é você, é o mundo, é o tempo. 

Se tudo é impermanente, isso não leva ao desinteresse — para Dōgen, é o contrário: a impermanência intensifica a urgência da prática.

Traz compaixão: cada encontro pode ser o último.

Traz respeito: cada objeto, momento, pessoa é único.

Assim, preparar arroz, caminhar, ouvir a chuva, sentar-se em silêncio — tudo se torna sagrado por ser passageiro

A Impermanência é consequência direta da vacuidade (śūnyatā):

Porque os fenômenos não têm essência fixa, eles estão em constante surgimento e cessação;

Mas esse fluxo não é caótico — é a dança da interdependência, da natureza búdica em movimento.

Dōgen rejeita o pensamento de que “algo está se perdendo”. Em vez disso, cada coisa surge e desaparece completamente, sem deixar restos ou faltar algo.

“O momento presente é completo. O passado já realizado é completo. O futuro que ainda não veio é completo.”

Não há “algo que muda”. Só há mudança.

E essa mudança é plena — é zazen, é dharma, é vida.

O Dharma se manifesta em cada elemento do mundo natural.

Dōgen elabora que a neve nas montanhas, o som da chuva, o voo de um corvo — tudo é ensinamento.

Mas não é um ensinamento “sobre” algo — é o próprio Buda se expressando na forma de pedra, neblina ou vento.

Esse ponto conecta-se à doutrina Mahāyāna de que “todas as formas são vacuidade”, e que toda vacuidade é forma

Para Dōgen, a natureza não é objeto de contemplação – é agente de sabedoria

A relação do praticante com a natureza, segundo Dōgen, não é estética ou espiritualista. A natureza não serve para "inspirar" prática — ela é a própria prática.

“As montanhas praticam.
As montanhas sentam-se em zazen.
As montanhas realizam o Caminho.”

No fascículo "Gyōji" do Shōbōgenzō, Dōgen afirma que a prática é ininterrupta, sem começo nem fim, e não depende de estados mentais, tempo histórico ou circunstâncias.

A prática não como meio, mas como fim em si mesma.

Para Dōgen, prática e realização são uma só coisa (修證一等 – shushō ittō).

"Gyōji não é o caminho para alcançar o despertar – é o próprio despertar em movimento."

Você não pratica para se iluminar; você se ilumina ao praticar, e isso acontece de novo a cada instante.


Na visão de Dōgen, a mente que é Buda é o aqui e agora completamente vivenciado.

Quando varremos o chão com atenção plena, isso é a mente-Buda.

Quando sentamos em zazen sem buscar nada, isso é a mente-Buda.

Quando comemos arroz com gratidão e presença, isso é a mente-Buda.

Dōgen está, como em muitos capítulos, reforçando o princípio de 修証一等 – shushō ittō: prática e realização são uma só coisa.

“A mente que pratica é a mente de Buda."