Comer é essencial
e cozinhar é um manifestação de nossa caridade, por isso achamos que seu
objetivo deveria ser óbvio. No entanto, olhando criticamente para a importância
de seu tempo e o que julgamos ser nossos talentos especiais, preparar refeições
raramente parece valer a pena. Cozinhar para dois? Não tem valor. Encher a geladeira? Não tem valor. Sentar para o jantar? Não tem valor. Limpar tudo depois? Não tem valor.
Mas nada
tem o valor que atribuímos, porque esse valor na realidade não existe. É uma
invenção de nossas mentes julgadoras, uma escala imaginária para medir o valor
imaginário das distinções imaginárias, e mais uma maneira de nos escondermos dessa
salada que é a vida que está diante de nós.
Se nada
vale a pena, por que então cozinhar? Por que comprar, preparar, trabalhar e depois
limpar tudo? Para se envolver na maravilha de seu próprio ser. Ver o maravilhoso
no inútil. Para encontrar a completa satisfação em ser incompleto. E comer algo
diferente de sua inflada auto importância costumeira. É isso que esvaziamos
quando esvaziamos a tigela, e uma cozinha movimentada nos dá a chance de nos
esvaziarmos muitas vezes ao dia.
Karen Maezen Miller
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