quarta-feira, 25 de dezembro de 2019


Comer é essencial e cozinhar é um manifestação de nossa caridade, por isso achamos que seu objetivo deveria ser óbvio. No entanto, olhando criticamente para a importância de seu tempo e o que julgamos ser nossos talentos especiais, preparar refeições raramente parece valer a pena. Cozinhar para dois? Não tem valor. Encher a geladeira? Não tem valor. Sentar para o jantar? Não tem valor. Limpar tudo depois? Não tem valor.

Mas nada tem o valor que atribuímos, porque esse valor na realidade não existe. É uma invenção de nossas mentes julgadoras, uma escala imaginária para medir o valor imaginário das distinções imaginárias, e mais uma maneira de nos escondermos dessa salada que é a vida que está diante de nós.

Se nada vale a pena, por que então cozinhar? Por que comprar, preparar, trabalhar e depois limpar tudo? Para se envolver na maravilha de seu próprio ser. Ver o maravilhoso no inútil. Para encontrar a completa satisfação em ser incompleto. E comer algo diferente de sua inflada auto importância costumeira. É isso que esvaziamos quando esvaziamos a tigela, e uma cozinha movimentada nos dá a chance de nos esvaziarmos muitas vezes ao dia.


Karen Maezen Miller

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