sábado, 16 de novembro de 2019


Em essência, o Zen é a arte de ver a natureza do ser e aponta para um caminho da escravidão à liberdade. Ao nos fazer beber apenas da fonte da vida, ele nos liberta de todos os encargos sob os quais nós, as criaturas finitas, geralmente sofremos neste mundo. A vida comum apenas toca a borda da personalidade, não causa um choque nas partes mais profundas da alma, de modo que o Zen faz sem palavras o que o ego e o intelecto não podem.

Esse corpo que temos é como uma bateria elétrica na qual existe um poder misterioso. Quando esse poder não é operado adequadamente, ele se torna mofado ou desbota ou torce e se expressa de maneira anormal. Portanto, a função do Zen é nos salvar de enlouquecer ou paralisar. É isso que quero dizer quando falo de liberdade, deixando todos os impulsos criativos e benevolentes inerentes ao nosso coração brincarem livremente. Geralmente somos cegos a esse fato: possuímos todas as faculdades necessárias que nos farão felizes e nos amarmos. Todas as dificuldades que vemos ao nosso redor vêm dessa ignorância. Quando a nuvem da ignorância desaparece, vemos pela primeira vez a natureza do nosso próprio ser.

Do ponto de vista do mestre zen, o melhor que o intelecto pode fazer é apontar o que não é certo e, portanto, pode ser uma força de destruição; por esse motivo, não funciona como veículo para iluminação. É  necessário recorrer a um aspecto muito diferente de nós, pois, de fato, o intelecto é precisamente o que não nos permite abraçar o infinito.


D. T. Suzuki

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