Em
essência, o Zen é a arte de ver a natureza do ser e aponta para um caminho da
escravidão à liberdade. Ao nos fazer beber apenas da fonte da vida, ele nos
liberta de todos os encargos sob os quais nós, as criaturas finitas, geralmente
sofremos neste mundo. A vida
comum apenas toca a borda da personalidade, não causa um choque nas partes mais
profundas da alma, de modo que o Zen faz sem palavras o que o ego e o intelecto
não podem.
Esse
corpo que temos é como uma bateria elétrica na qual existe um poder misterioso.
Quando esse poder não é operado adequadamente, ele se torna mofado ou desbota
ou torce e se expressa de maneira anormal. Portanto, a função do Zen é nos
salvar de enlouquecer ou paralisar. É isso que quero dizer quando falo de
liberdade, deixando todos os impulsos criativos e benevolentes inerentes ao
nosso coração brincarem livremente. Geralmente somos cegos a esse fato:
possuímos todas as faculdades necessárias que nos farão felizes e nos amarmos.
Todas as dificuldades que vemos ao nosso redor vêm dessa ignorância. Quando a
nuvem da ignorância desaparece, vemos pela primeira vez a natureza do nosso
próprio ser.
Do ponto
de vista do mestre zen, o melhor que o intelecto pode fazer é apontar o que não
é certo e, portanto, pode ser uma força de destruição; por esse motivo, não
funciona como veículo para iluminação. É necessário recorrer a um aspecto muito
diferente de nós, pois, de fato, o intelecto é precisamente o que não nos
permite abraçar o infinito.
D. T. Suzuki
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