domingo, 28 de março de 2010

Sem desperdício

Chegaram aos ouvidos do príncipe Takayasu os comentários de que mestre Kendó, uma das maiores figuras espirituais anteriores a era Meiji (1868), deleitava-se com suntuosas ceias após todos terem adormecido.
Na noite seguinte o príncipe, mesmo sendo um profundo admirador de Kendó, escondeu-se no jardim e viu que realmente o mestre comia sozinho em sua cabana. Ingignado, Takayasu pulou de súbito a janela, e o mestre, surpreendido, cobriu com rapidez sua tigeja.
- O que você está escondendo? - perguntou o príncipe.
O mestre pediu para que ele esquecesse o assunto e não insistisse, mas quando o príncipe fez menção de tomar a tigela, Kendó a descobriu e mostrou seu conteúdo, dizendo:
- Me envergonha muito de que isso tenha chegado aos ouvidos de Sua Alteza. Há aqui muitos monjes estudantes vindo dos mais diversos lugares do país, e apesar de eu sempre insistir para que não desperdicem uma gota de água sequer e nem joguem fora sobras de legumes e arroz, continuam jogando os talos e tudo o mais pelo ralo. Para evitar esse desperdício, coloquei uma pequena rede dentro do ralo, e quando todos dormem recolho o que o que ficou retido ali, fervo, e aproveito como ceia. Faço isso há muitos anos. Lamento profundamente que uma história tão sórdida venha a incomodar teus nobres ouvidos.

Citado por Irmgard Schloegl em "La Sabiduria do Zen"

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